quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Nossas “espadas”


Foi o escritor Milton Filho, de Ribeirópolis, Estado de Sergipe, que, ao comentar, no Portal Literal, “O caboclo de Capanema”, me deu a permissão de continuar com esses escritos. Em seu comentário, Milton cita a “Espada-de-São Jorge”, planta que integra a lista de vegetais benfazejos, que minha mãe costumava cultivar. Essa “espada” – diferentemente da “Espada-de-Joana D’Arc”, constitui-se em uma haste não muito grossa, roliça e comprida, mas que – agressiva, afina-se na ponta, enquanto a da guerreira começa, no tronco, meio redonda, mas – à medida que cresce, torna-se larga, aberta, mas, quando chega à ponta, afina-se em forma de estilete. Outra diferença entre as duas “armas” diz respeito às cores delas. A do macho é verde, com umas nesgas meio escuras pelo meio. Já a da fêmea possui as bordas amareladas, que servem de contorno ao miolo da folha, que também é verde, com rasgos quase negros, muito parecidos às nesgas da outra. São hastes duras, fortes, resistentes. Não vergam com facilidade, e – para colhê-las, faz-se necessário certo esforço, pois não se deixam quebrar. Somente a golpes de faca é que podem ser abatidas. Mas, para que servem as tais “espadas”, já que não são dotadas de beleza? Para ambientes internos, não são recomendadas. Muito pelo contrário. Dentro de casa, por exemplo, podem se tornar perigosas, principalmente às crianças, que costumam brincar por toda parte. Eu nunca vi, mas, me contaram, que, no interior do Estado, uma das serventias da “Espada-de-Joana D’Arc” era tirar a panema, ou seja, a má sorte, a pissica, a urucubaca. Diz-se do sujeito panema, aquele que não vai bem nos negócios: o caçador, que sai para a espera e volta sem caça; o pescador, que vai para o rio e não pega nada; o homem solteiro, que não arranja mulher. E como isso se dá? Pasmem, mas é por meio de surras, que devem ser dadas no infeliz, em – pelo menos, sete sextas-feiras seguidas. Após a sova, o sujeito deve se banhar no rio, esfregando no corpo alguns tipos de ervas, que colaboram nos efeitos curandeiros da “espada”. Se utilizar sabão, esse deve ser grosso, e – quando estiver se banhando, o elemento tem de dizer três vezes: sai, panema! Volta para quem te mandou! Possuo alguns relatos, dando conta de que – após a realização do esconjuro, algumas pessoas da própria comunidade do panema – homens, principalmente, antes bem sucedidos em suas transações, passaram – imediatamente, à condição de azarado, o que prova a eficácia do remédio, nos dois sentidos dele: a cura do empanemado e o reverso do mal a quem lhe deu origem. Quando isso acontece, facilmente se identifica o malfeitor. Às vezes, é um vizinho ou até mesmo um compadre invejoso. Ora, contra males dessa natureza, Milton Filho me informa, que, “pelo sim, pelo não”, ou seja, na base do melhor prevenir do que remediar, na casa dele, há um pé de “Espada-de-São Jorge”. Acho que faz muito bem, meu amigo, conservar um tipo de planta como esse, pois – verdadeiramente, nunca se sabe em que tipo de “buraco” estamos metidos. Gente malvada, em todo canto tem. A inveja existe, sabiam? E, na maioria das vezes, ela nos joga para o atraso. Um olhar enviesado – o mal olhado, pega, mano, que não é brincadeira! Dá uma moleza no corpo, que o sujeito só tem vontade de estar deitado! Bate uma sonolência, que a pessoa não para de abrir a boca, não tem ânimo para nada. Outro dia estava assim! Sabe que fiz? Arranjei com um amigo três limões-galegos, e – três dias consecutivos, após parti-los em cruz, mas desprezando a quarta parte, tratei de tomar banho com eles e com água de sal virgem. Era mandinga, olha! Pois não é que passou? Voltei ao normal, mais feliz do que antes, até! Inteligente era minha mãe, que não se descuidava dessas coisas. Estar segura era com ela mesmo. Não relaxava nunca! “Espadas”, cipós, até caroços de frutas secos... tudo servia para nos livrar do mal.

Nossas “espadas”, hoje, de que nos protegem, hein?

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