domingo, 10 de janeiro de 2010

Invencionices de minha tia

Tive uma tia, que me contava muitas histórias. A velha era "craque" nisso, era analfabeta, mas como sabia contar histórias. Hoje, creio que boa parte delas era inventada, mas - criança, nem percebia, achando que as tais histórias eram verdadeiras. Recordo essa tia para firmar posição acerca do conto, deixando clara a percepção - mais do que isso, a diferença, que não deixa de ser pequena, entre história verbalizada e escrita. Minha tia não sabia escrever, mas eu bem que poderia, naquela época, ter anotado as narrativas da velha, mas - ainda assim, ela não seria a escritora. A autoria, sim, essa poderia ser atribuída a ela. Dessas histórias, não me recordo de mais nenhuma - pelo menos, integralmente. Lembro de passagens esparsas e de algumas palavras, mas que, dada à precariedade de consistência, não se configuram suficientemente fortes para recompor o todo. É bem verdade, que as histórias de minha tia não eram pequenas, até porque - em sua maioria, eram contadas para me fazer dormir, coisa que nem sempre acontecia logo, daí porque, diversas vezes, era eu que despertava a velha, quando notava a ausência de sua voz, flagrando-a em pleno cochilo. Nesses momentos, vinha sempre a pergunta: onde era mesmo que eu estava? Daí por diante, mais invencionices da tia, que só acabavam, quando acabávamos dormindo. Não sei, não tenho certeza, mas, acho que, se me dispusesse, agora, a recontar, escrevendo, essas histórias, certamente que as faria menores, sem, contudo, delas retirar o brilho. Histórias curtas, breves, podem, sim, conter ação dramática tão "forte" quanto as grandes, expandidas. Não vejo - sinceramente, não vejo, necessidade de um conto, para ser bom, ter de se tonar enorme. Penso não ser essa a principal premissa a premiar a boa história, que, para ser boa, só necessita de emoção. As histórias de minha tia possuíam o dom de me adormecer, não porque fossem ruins, mas - exatamente, porque eram grandes demais.

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