terça-feira, 30 de março de 2010

Canção de ferocidade

Perpetuo a relva sem orvalho desse céu que camuflo para o ano por vir. E, enquanto aguardo a estação, estanco teu passo, na estação, e – em teus braços, escrevo...
Nela, ressurges renovada, mas já não existe caminho nem viagem por seguir. Retomo o ponto, retoco a nota, troco de passagem. Finjo – sempre fiz isso, mas ainda hei de te adorar sem virtude.
E tu, que saíste de meu peito, deitarás de novo, no charco de lembranças, o laço que enfeitava o fim de nossos dias.
Analiso o que bebo e só depois decido a hora de acordar. Mas, quando durmo, és tu que te deitas e deixas abertas as portas. Se não entro, reclamas, e – quando saio, são teus olhos que despertam...
Desfruto esse instante, que sei ter sido nosso. Por isso, reclamo o vinho deixado em tua casa, quando todos ainda lutavam por se aquecer.
Por mim, podes bebê-lo. Eu estarei atento a teus goles. Só não te esqueças e te iludas, que ele é de origem fiel. De suas uvas, as aves arrebataram o pior. Não te enganes por isso nem aflijas os que por ele desistiram de chegar...
Os que de tão perto vieram ainda estão por aí, e o dia de nosso vôo será a fartura de favos, e a chuva, e esse...
Cravo, que a madeira recusou. Cova, que o fogo enobrece e o vento refaz.

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