quarta-feira, 6 de abril de 2011

Corpo

Uma mulher morreu. De quem era o corpo? O de Neide não era. Conheço muito bem aquele corpo. Talvez o de Naza, mas – como saber, se – àquela hora, o sol espera teu nascer?

Um corpo de mulher brotou da garganta da tarde e subiu – envolto em neblina, à torre do templo, de onde – cansado de sonhos, fremia o badalo do sino até que seus ouvidos se enchessem de dor.

Um corpo sem nome nem sexo, de mistério e esperma revestido, sangrou até que a morte se esvaísse, e dele a mais rica das estrelas, surgisse.

Esse corpo de quem nada sabemos talvez seja o de Mayra, que abusou da sorte de sorrir, e – sempre que fazia isso, naufragava em sentimentos confusos...

Essa mulher, que ora ao vento, um dia foi isso: a calmaria da costa que nos aguardava, e que – em gotas suicidas, deitou-se e se deixou encaixar.

Agora, que desvendei o segredo do corpo encontrado, sei que o sol, que secou teus cabelos, e o sal, que conservou teu leito, não eram mais que a sombra do mar movediço em que teus pés afundaram, a areia que se perdeu, quando teus seios se tornaram partida, quando o barco de nossa ignomínia despertou a madrugada...

A madrugada que pariu um corpo de mulher.

Nenhum comentário:

Postar um comentário