quarta-feira, 6 de abril de 2011

Fim

Não guardes para mim o que não te serve mais. Sobejos, me convêm... Prefiro a palha de teus olhos ao sol da tarde e ao azul que ficou para trás.

Eles conversam comigo e conservam a nudez refestelada de eras anteriores, quando não passavas por meus sonhos, e ficavas à mercê de minhas lembranças.

E tu, gentil cortesã, brindava-nos com teus encantos, e – noite adentro, inebriados, cantávamos tuas delícias, depois de ter usurpado tua pétala derradeira.

Em vão folgávamos de manhã, certos de que – extenuada, já não valias um vintém. Esmolas, costumávamos atirar aos pássaros, na praça por onde já não passavas mais. Teu caminho findara...

E agora eras as pedras da calçada, que calcávamos com rudes palavras até que se esgotassem as possibilidades de infeliz reconciliação. Repúnhamos então nossas vestes e saíamos...

Abraçados, retomávamos – a esmo, outra direção, descrentes de tudo, que pudesse se parecer com teus seios, conluio, que – naquela noite, me trouxe inesperadamente o que deixei escapar.

Não. Não guardes para mim o que não te serve mais. Aos porcos, o que estava reservado a esse fim de tarde, e – se, ainda assim, te sentires sozinha, lança-te às trevas... Que o fim se aproxima.

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