quinta-feira, 19 de agosto de 2010

E IV

E sempre me localizava. Eu – confesso, também não fazia nada para me ocultar. Naquela tarde, E telefonou, pedindo ajuda. Disse que viesse. Profundo conhecedor de E, aguardava-a. Não veio nem deu notícia. E começava a gostar de mim e eu já percebera isso. Lembro-me ter dito estar em casa. Até agora, nenhum sinal de E. Não importa onde esteja, E sempre dá um jeito. Sua vantagem é a docilidade. E se empanturra de mim. Quando vem.

E III

Quando reapareceu, E trazia marcas, que nem ela explicava. A cabeça de cavalo tatuada no braço direito dava o tom da mudança. Parira cinco vezes. Resolvi explorá-la. Pus o LP na vitrola, E não se fez de rogada, entendendo o convite. Chovia. Na terceira canção, E já não estava mais ali. Esgotara-se. Ao abrir a janela, dei com E, equilibrando-se no limbo de uma folha. Ainda tentei apará-la, mas ela, que brilhava, recusou minha ajuda. A brisa a levou de novo.

E II

Hoje, se desse certo, haveríamos de nos encontrar. A iniciativa era de E. A chuva, porém, estragou tudo. E deve ter torcido para que ela passasse. Eu até já pensava no que ia se dar, e – certamente, E gostaria de começar conversando. Para quando chegasse, eu já preparara suco de acerola com bolacha, que tomaríamos depois do banho. E não pôde vir. No dia seguinte, telefonou, irritada. Não comigo – é claro, mas com o cara, que passou a noite com ela.

E

E não era prostituta, mas não costumava brincar em serviço. Eu já a conhecia. O problema é que – depois, arrumou um cara que me odiava. Ora, eu nunca fizera nada, mas ele vivia me aporrinhando. E tinha a vida dela. Só quando se aborrecia, é que me procurava. Nessas horas, eu me fazia de leso, e deixava a porta aberta, só para ele assistir. Ela não achava isso muito legal, mas – forçada pelas circunstâncias, acabava cedendo.

Luciana VI

Nunca estive com Luciana. Só a vi uma vez, e falei com ela duas, por telefone, mas ainda esperava prosseguir nossa conversa, interrompida na rodoviária. Eu não sabia tanto de suas intenções quanto Luciana, das minhas, mas o que convinha, agora, era descobrir por que fugia. Luciana se fez de desentendida: retirou da bolsa um estojinho e retocou a maquiagem. E, quando colocou os óculos escuros, então? Pedi-lhe que os retirasse. Quando atendeu o celular, foi então que descobri por que Luciana estava ali.